16. Discursos, interseccionalidade e decolonialidades: processos de dominação e resistências
Glória da Ressurreição Abreu França, Ana Josefina Ferrari
A formação social da América Latina e Caribe se sustenta pelo modo de produção capitalista, marcado pela colonização e pelos efeitos da colonialidade que se perpetuam, pelos cruzamentos de processos de racialização e de dominação de gênero/sexualidade a partir dos quais se (re)produzem o racismo, o sexismo, o patriarcalismo que estruturam as produções hegemônicas de sujeitos e de sentidos na contemporaneidade. Essas relações, interseccionais, ou ainda, esses processos de identificação interseccionais (Franca, 2017), podem por vezes se materializar enquanto discursos classistas, racistas, sexistas, produzindo efeitos. Ao mesmo tempo, na América latina e no Caribe existem inúmeros espaços de resistência habitados por diferentes populações, que nos últimos 500 anos foram subalternizadas, escravizadas, submetidas, mas que resistiram ao jugo colonialista. Nessas condições de produção, nos parece produtivo pontuar nos estudos e análises uma perspectiva interseccional e decolonial dentro do campo dos estudos do discurso. Trata-se de nos filiarmos , além da Análise do Discurso, aos estudos de Lélia Gonzalez (2020), Sueli Carneiro (2011, 2023), Enrique Dussel (2013), Luiz Antonio Simas (2019, 2020), Aníbal Quijano (2005, 2009), dentre tantos outros que pensam, em seu campo de estudo, os efeitos de discursos e os processos de produção dos sentidos e dos sujeitos a partir dessas condições de produção de Brasis, de brasilidades, de latino (ladino) amefricanidades, levando em conta suas contradições de classe, de raça, de gênero, e os efeitos da colonialidade. Partimos do pressuposto de que nos espaços de resistência se produzem processos de identificação interseccionais, na cidade e no campo, em comunidades indígenas e quilombolas, na cultura e expressões populares. As problemáticas interseccionais se materializam, desde o lugar de enunciação dos invisibilizados, dos subalternizados, do lugar dos nadies. Assim, interessa-nos explorar e acolher, neste grupo de trabalho, estudos que, na perspectiva discursiva, pensem e analisem as relações de dominação e/ou de resistência que atravessam diferentes espaços e materialidades discursivas em torno de um ou mais dos seguintes eixos, que listamos de modo não exaustivo: discursos que se produzem na relação de classe e de racialidade/etnicidade; processos de identificação em torno de identidades racializadas, gendradas, interseccionais; processos de resistência por meio de lugares coletivos, como os saberes locais, a cultura popular, os movimentos sociais da cidade e do campo; os movimentos e expressões dos silêncios e dos silenciamentos; o funcionamento da memória na relação com discursos oficiais na tensão com memórias e discursos outros, que demarcam outros espaços e outras formas de textualização. Análises que abordem as redes de filiação sócio-históricas, os antagonismos, as contradições que operam desde lugares de enunciação e dispositivos discursivos que produzem as subjetividades em diferentes materialidades e espaços de circulação do dizer. Em suma, acolheremos trabalhos que problematizam as produções de sentidos e de sujeitos na contemporaneidade questionando as condições de produção sócio históricas da formação social da América Latina e Caribe estruturalmente atravessada pela colonização e pelos efeitos de colonialidade, em discursos racistas, sexistas e classistas.
Palavras-chave: Discurso; Brasilidade; Interseccionalidade; Colonialidade; Resistência.