21. Memória e Turismo no contexto de debates emergentes
Maria Amália Oliveira
Na medida em que é o caráter coletivo que reforça ou enfraquece a reprodução de memórias, a dinâmica entre lembrança e esquecimento destaca-se na análise de vários estudos sobre memória. Considerando que todos os grupos produzem socialmente esta articulação acerca que será lembrado e sobre o que será esquecido na atualização de seus laços sociais, fica evidenciado que tais processos são construídos em tono de disputas, conflitos e relações de poder, tal como chama atenção Michael Pollak (1989). Aleida Assmann (2011) destaca a emergência do passado como preocupação fundamental, considerando tal fenômeno como característico das últimas décadas do século XX que permanece até o presente momento. Para a autora, embora o foco esteja no passado, esse movimento implica em uma direção para o futuro, pois a memória surge como um artifício para proteger o passado da ação do esquecimento, fornecendo assim, para os indivíduos, subsídios para o entendimento do mundo presente e possibilidades para o futuro. Andreas Huyssen (2000) esclarece que a “cultura da memória", revela um processo de “reificação do passado", cuja característica primordial é sua transformação em objeto de consumo. O passado seria assim, embelezado, neutralizado, rentabilizado e utilizado pela indústria do turismo e do espetáculo. Os argumentos trazidos por Huyssen fornecem elementos para uma série de reflexões envolvendo a atividade turística. Tal atividade tem estado atrelada a projetos de desenvolvimento cujos embates perpassam a utilização de bens culturais e naturais presentes em territórios que são abruptamente atravessados pelo discurso envolvendo os supostos benefícios econômicos associados a referida atividade. Em tais processos, o debate sobre memória tem se mantido ausente; contudo, tanto o ato individual de lembrar quanto as narrativas construídas sobre os locais onde a atividade turística é ou será implementada, configura-se como aspecto urgente a ser explorado nos debates acerca do papel e/ou lugar da memória. Desta forma, este Grupo de Trabalho coloca como questões a apropriação da memória no turismo, o uso do turismo na construção de memórias, a mercantilização de lugares de memória, o papel da memória no turismo, souvenirs enquanto produtor e reafirmador de memórias, construção de narrativas sobre o passado para fins turísticos, discursos de fomento de políticas públicas que se utilizam do turismo e da memória, o lugar das memórias nos processos de turismização em espaços como Unidades de Conservação, quilombos, terras indígenas, entre outros. Pelo exposto, nossa proposta reside em abrigar discussões oriundas de trabalhos onde a memória, enquanto campo de disputas permeado por distintos processos de produção e articulação das lembranças e esquecimentos dos diferentes sujeitos sociais, será a chave para a expansão de discussões que perpassam questões que envolvem os debates sobre diásporas, sentidos atribuídos à sistemas alimentares, revitalização e disputas de territórios, reinvenções de tradições, planejamento urbano, memórias traumáticas, processos de patrimonialização, construções identitárias, entre outras inerentes a relação memória e turismo.
Palavras-chave: Turismo; Memória; Diáspora; Populações Tradicionais; Cultura