28. Epistemologias de Terreiro: Memórias de axé para uma outra educação possível
Mirella Farias Rocha, Waldemir Rosa
Na tradição da ciência espiritual africana de matriz yoruba, presente no Brasil e em outras partes do mundo diaspórico, o ?dù pode ser descrito como um conjunto de signos que no sistema do Ifá comunica em fora de Ìtàm (mitos e histórias) padrões de conduta e princípios hierárquicos e de moralidade. O ?dù é o centro de um sistema epistêmico que se efetiva por meio de Orin (cânticos), Adúrà (rezas) e ?fò (feitiços) e que possuem como finalidade última pessoalizar o cuidado como fator de pertencimento à coletividade e de reconhecimento da dignidade humanidade. Nesse sentido, o terreiro é um território material concreto do exercício ontoepistemológico de saberes não-brancos, da convivência coletiva, da força comunitária e do afeto como projeto politico do nosso povo. No Grupo de Trabalho (GT) buscamos reunir estudos – resultados de pesquisa (concluídas e em andamento) e relatos de experiências – que privilegiam o diálogo interepistêmico das cosmopercepções de terreiros e macumbarias com os saberes
Afrolatinoamericanos y del Caribe escolares e acadêmicos, na perspectiva da valorização das tradições orais africanas e afrodiaspóricas como vetor de garantia do direito à educação – acesso e permanência – e à memória. Pretende-se que o GT seja um espaço de aprofundamento da reflexão sobre experiências exitosas e propostas de integração simétrica (em condições de igualdade) dos saberes tradicionais africanos e afrodiaspóricos na educação forma – básica e superior. Tendo a educação para as relações étnico-raciais como orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da educação, e com o objetivo de reforçar a memória dos saberes ancestrais como fundamento ético-político, busca-se, por meia das epistemologias afro religiosas, promover o enfrentamento à forma social racista presente na sociedade brasileira e promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica. O paradigma principal das experiências reunidas no GT são o diálogo intercultural e transcultural como um processo de interação que parte da reflexão do reconhecimento da diversidade e do respeito à diferença cultural. Tal diálogo prevê uma interação equitativa entre pessoas, conhecimentos e práticas e partindo do reconhecimento das desigualdades econômicas, sociais e de poder para propor uma alteração da realidade social.
Palavras-chave: Epistemologias de terreiro; Educação para as relações étnico-raciais; educação Inter/transcultural afro referenciada; Memória e educação antirracistas.