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A I N A L C
Associação de Investigadores/as Afrolatinoamericanos/as e do Caribe |
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BITÁCULA  AFRODIASPÓRICA | Transitando os temas da diáspora africana na América Latina e no Caribe | ||
Estamos vivendo um momento dramático de múltiplas crises estruturais, uma percepção avassaladora de instabilidade. Estamos numa situação prolongada de incertezas, as certezas desmoronam diante dos nossos olhos e surgem fantasmas com promessas messiânicas das quais procuramos agarrar-nos com doloroso desespero, renunciando até uma e outra vez à dolorosa felicidade de pensar, de imaginar criativamente; exercer a nossa autonomia solidária. As maiorias afirmam acreditar dogmaticamente em algo, ter certezas, novas ou antigas, para acalmar a sua inquietação existencial. É um sintoma de mudança civilizacional com os clarões do conforto tecnodigital e da automatização da vida, com o surgimento de novas subjetividades coletivas. Rapidamente, uma nova sociedade atravessou o alvorecer do século XXI para se acomodar ao espírito tempestuoso dos seus dias.
Esta sociedade, como uma moeda, representa pelo menos dois lados, profundamente interligados na governamentalidade, e manifestam-se heterogêneos em suas agendas públicas predominantes. De um lado a retórica são os objectivos de desenvolvimento sustentável (ODS), a agenda 2030, o discurso inclusivo, o politicamente correcto, os produtos orgânicos, os limpos, incluindo a limpeza racista xenófoba. Sociedade capitalista verde no norte global, que não está disposta a sacrificar os seus níveis de consumo em detrimento das maiorias no sul. Com esta postura prática no seu modo de vida, ele paradoxalmente mostra o outro lado; o do controle e da redução populacional a todo custo. Com todos os tipos de políticas e estratégias públicas destrutivas e opressivas, até mesmo a guerra biológica nos territórios saqueados.
O empobrecimento e, esperançosamente, a extinção do pluralismo e da diversidade biocultural é imperativo. Isto forma o lado das vítimas, dos humilhados, dos famintos do mundo. Chamados de migrantes, refugiados, sobreviventes do projeto de morte que se expande após a desapropriação global; mesmo e, sobretudo, os sonhos de um presente e de um futuro melhores. Esta sociedade de bipolaridade exacerbada é narcótica, doente e repugnante por definição. A verdade agonizante foi massacrada, o triunfo é do neoliberalismo e do neofacismo digital com suas fake news. É o que, num certo sentido, alguns chamam eufemisticamente de império da pós-verdade, combinado com o pós-humano.
A irmandade do copresente, do coexistente, tangível ou não. É o Ekobicêntrico, como fundamento ontológico, epistemológico e de sabedoria que nos chega de grandes civilizações africanas como o Kongo e o Iorubá, entre outras. Que nos oferecem filosofias renovadas como Ubuntu ou Muntú para desracializar e reumanizar o planeta, para além do humanismo antropocêntrico moderno. “Porque devemos duvidar da humanidade de quem julga o outro pela cor da pele, com certeza ele a perdeu.” Apresenta o pensamento africano expresso nas suas espiritualidades e religiões; Por isso o seu caráter ecumênico, de fraternidade, sem exclusões até hoje, a tal nível que podemos encontrar, entre outros papéis, Babalaos e Babalochas não africanos, não afrodescendentes em total comunhão e coesão com eles, dentro de suas Casas de santos, Kandombles, Lakus, Umbandas, etc.
É humanização na raiz, sem discriminação, humanização radical. Oferta africana e sua diáspora para uma coexistência planetária pacífica. Sobre a importância destes sistemas de pensamento e dos seus valores vitalistas, foi o apelo insistente do escritor Manuel Zapata Olivella (1920-2004) ao longo da sua obra. Da mesma forma, a vida de Nelson Mandela ( ) é ilustrativa disso, ainda que os colonizadores e seus herdeiros na África do Sul e no resto do mundo não quisessem compreender. Existe a oferta, o exemplo.
que dão sentido a novos mundos. Iluminação de horizontes civilizacionais diferentes daqueles que nos são impostos como hegemónicos para modelar o nosso senso comum. Dê boas-vindas à imaginação solidária e à criatividade vitalista!! Bem-vindo aos mundos ecobiocêntricos!! É um convite da práxis da Associação de Pesquisadores Afro-Latino-Americanos e Caribenhos.
Mestre em História Latino-Americana. Doutor em Estudos Latino-Americanos (UASB-E) Professor Simón Bolívar da Universidade Andina e membro da Cátedra de Estudos Afro-Andinos da mesma Universidade. Pesquisador associado do Centro de Estudos Afrodiaspóricos da Universidade Icesi, Cali, Colômbia. Em seu trabalho busca a reflexão crítica e criativa para a transformação social. Reconhecido na área dos estudos decoloniais, afrodiaspóricos e afro-colombianos por suas pesquisas sobre migrações, exílios, cultura e pensamento educacional, político e cultural.