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Associação de Investigadores/as Afrolatinoamericanos/as e do Caribe |
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BITÁCULA  AFRODIASPÓRICA | Transitando os temas da diáspora africana na América Latina e no Caribe. | ||
O segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia terminou com o triunfo do Pacto Histórico, a força política que governará os próximos quatro anos (2022-26). Nas ruas populares, camponesas, negras e indígenas, ouviu-se fortemente um povo ávido por viver em uma sociedade menos injusta, um povo empoderado, comprometido e convencido de seu importante papel histórico.
O Pacto Histórico conquistou a vitória em meio a uma acirrada guerra midiática, judicial e política, e a perseguição permanente de fraudes que nos manteve no limite até o anúncio final dos resultados. Uribismo perdeu nesta eleição. Perderam o velho maquinário que sempre governou o país. As máfias perderam. Perdeu a política militar genocida que, desde o início deste século, foi implementada como saída do conflito social e armado que aflige o país. Perdeu a direita rançosa, que a todo custo tentou promover um candidato com pouco conhecimento do Estado, um suposto campeão do combate à corrupção que, paradoxalmente, é processado por esse crime. Um candidato cujo comportamento expressa e sintetiza as práticas mafiosas, utilitárias, misóginas e violentas que estão arraigadas em nossa sociedade.
Rodolfo Hernández foi a saída que a direita buscou no segundo turno para vencer a eleição, baseada na convicção de que o povo colombiano é facilmente manipulável e não tem consciência ou leitura política. Dentro do fluxo eleitoral desse candidato, vários eleitores foram agrupados. De um lado, há quem se entusiasmasse com o fato de ele não ser oriundo dos partidos políticos tradicionais, ou seja, um empresário que, por sua situação econômica privilegiada, supostamente cuidaria do erário. Por outro lado, há aqueles que canalizaram seu desejo de mudança por meio desse personagem devido ao medo que a mídia criou em relação a Gustavo Petro. Também aqueles que, por ingenuidade, viram apenas a ponta do iceberg, sem reconhecer naquele candidato a continuidade do status quo. Por fim, podemos citar aqueles que, como resultado de tantos anos de violência política, cultural e de gênero, naturalizaram muitas das práticas abusivas do referido candidato, a ponto de não corarem ao ouvi-lo. Ao mesmo tempo, neste segundo turno, toda a direita cerrou fileiras para divulgar a campanha de Rodolfo. Basta olhar o mapa eleitoral para perceber como o resultado obtido por este candidato se concentrou principalmente no centro do país, onde estão localizados os departamentos com maior desenvolvimento econômico e os setores mais privilegiados. No entanto, nem mesmo com toda a sua maquinaria eleitoral conseguiram extinguir a esperança de mudança que nasceu na Colômbia.
As grandes maiorias populares acompanharam o Pacto Histórico. Aquele país castigado pela violência, racismo, negligência política e corrupção, saiu decididamente para apoiar esta proposta de mudança. O caminho traçado pelo Pacto Histórico foi tão decisivo que conseguiu convocar jovens, mulheres, camponeses, populações indígenas e negras, que arcaram com o resultado vitorioso da campanha. Este é um triunfo para reivindicar as vítimas do conflito social e armado, os jovens assassinados e desaparecidos no último surto social e todos aqueles que semearam as sementes da mudança à custa da expropriação e da morte. Este será um governo de esperança que, como bem disse Petro, surge “da soma de resistências”, de “um passado de lutas e rebeliões contra a injustiça”.
A presença de Francia Márquez, mulher negra de origem popular, foi decisiva para convocar o apoio dos departamentos que sofreram os efeitos devastadores das políticas neoliberais e genocidas. A França nos orgulha não apenas por ser a primeira vice-presidente afrodescendente da história do país, mas por tudo que representa. Dá orgulho a todos aqueles que resistem e lutam, aqueles que nunca saem do lugar de luta e resistência, como expressou certa vez nossa querida professora e líder afro-brasileira Nilma Lino Gomes.
Essa vitória é histórica. Em um país onde a direita sempre governou, poucos de nós acreditavam nas possibilidades reais de um governo de esquerda chegar à Casa de Nariño. Este governo tem uma enorme legitimidade social e histórica que antecede o resultado eleitoral de ontem, mas que terá de saber cuidar e gerir. O Pacto Histórico carrega as bandeiras de quem nasceu, lutou e morreu na noite horrível que ainda não terminou. Essa força hoje tem o dever de garantir que a esperança de uma Colômbia diferente ganhe espaço político, social e cultural na sociedade como um todo. A Colômbia exige mudanças profundas que envolvem todos os setores. Hoje, através das eleições, foi dado um passo importante que representa uma vitória histórica, uma lufada de ar fresco não só para o nosso país, mas também para o nosso sul, o sul da nossa Améfrica, como disse Lélia Gonzalez